Romeu e Julieta
Atendo um cliente que se diz insatisfeito com o casamento. Ele me conta que, desde o princípio, a esposa não era a mulher dos sonhos, estando aquém dos seus padrões em todos os sentidos. Diz que, como já estava na idade de se casar, não pensou muito e foi em frente, já somando cerca de 15 anos de matrimônio.
Já teve várias paixões idealizadas, platônicas, presenciais ou via internet. Não as concretizou e lembra-se delas até hoje. A última, rompida há pouco, foi o que o levou a me procurar. Sentia-se rejeitado e obcecado pelos passos da mulher nas redes sociais.
Lembro-me imediatamente de dois filmes e um romance:
Nunca te vi, sempre te amei, de 1987, que traz Anthony Hopkins e Anne Bancroft nos papéis principais. Seus personagens um inglês e uma americana – se correspondem através de cartas, durante muitos e muitos anos, sem jamais terem se encontrado. Unindo-os, o amor pelos livros, o respeito e a cumplicidade que progride para uma paixão velada, que sabem que nunca se realizará na prática.
Do mesmo estilo, porém um pouco diverso, Meryl Streep e Clint Eastwood protagonizaram um dos mais belos filmes do século XX, As Pontes de Madison. Robert Kincaid, um fotógrafo da National Geographic vem chacolhar o cotidiano insosso de Francesca Johnson e, durante 4 dias, vivem o que, talvez, não tivessem jamais vivido em anos passados. No final, Francesca tem que escolher entre a paixão e a vida calma ao lado do bom marido e dos filhos. Se você não conhece o filme, sugiro que o assista e descubra o que levou Francesca a tomar a decisão que tomou.
Agora, pare um pouco e pense: qual é o mais célebre romance de amor de todos os tempos? Aquele que inspirou peças de teatro, minisséries e filmes? Aquele que tem por cenário uma cidade medieval italiana e que contém todos os ingredientes que prendem a atenção dos leitores e telespectadores, ou seja, paixão alucinante, ódio entre famílias, violência e morte? William Shakespeare não era bobo nem nada. Sabia que o estado de enamoramento máximo, sem a possibilidade de ser vivido no real, levaria a um aumento do IBOPE. Costumo dizer que Romeu e Julieta só deram certo e passaram à história como o mais famoso casal do universo porque não tiveram tempo de comer um saco de sal juntos. Imagina se tivessem vivido e envelhecido juntos e Julieta reclamasse todos os dias da toalha molhada em cima da cama? E se Romeu chegasse em casa, ávido por sexo, e encontrasse Julieta de camisolão e chinelos, assistindo a novela das 9, sem a mínima disposição para os intercursos conjugais? Continuaria o casal a ser o representante máximo da paixão? Deixo para você refletir…
Quando se trata do imaginário humano, a fantasia é tremendamente desleal, em comparação com a realidade. A realidade pode ser grotesca, cinza, úmida, mal cheirosa. Da fantasia, faço o que quero…imagino..coloco….retiro….transporto-me para outras localidades….atribuo virtudes a quem somente tem defeitos…Portanto, a fantasia sempre ganha. Talvez seja exatamente por isso que tantos preferem viver sem fio terra e com a cabeça nas nuvens. Para não ter que enfrentar desprazeres e infelicidades. Porém, quando se quer ser adulto maduro, responsável por suas escolhas, tem-se que encontrar o equilíbrio para instilar gotas de prazer na realidade cotidiana. Do contrário, seremos somente meninos birrentos a nos queixar que a vida não nos dá o que desejamos. Além do que, viveremos vidas irreais.
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