
O homem no CTI
Tentou abrir os olhos. Uma névoa fina dançava a sua frente. Vozes, murmúrios indecifráveis, passos apressados… E aquele pim-pim-pim, contínuo e rítmico, ferindo-lhe os ouvidos. Doía-lhe o corpo todo e o cheiro de borracha daquele cano, dentro de sua garganta, o nauseava. Tentou lembrar-se de onde estava. Retornando pelo túnel da memória, deu-se conta de que deveria ter sido operado e, portanto, deveria estar num CTI. Ou poderia, também, estar no céu. Não… aquele tormento assemelhava-se mais a um lugar subterrâneo… Voltando ainda um pouco , com dificuldade lembrou-se dos exames feitos e do diagnóstico médico: um baita entupimento numa artéria importante. Teria que “entrar na faca”. Consequência mais que natural para quem trabalhava 16 horas por dia, almoçava sanduíche e fumava 2 maços de cigarro. Ajudaram, também, as brigas em casa, a insônia e a agressividade no trânsito. E o ego jazia, agora, golpeado: afinal de contas, não havia sido sempre voluntarioso e autossuficiente? Estava ali…impotente, dolorido e à mercê dos outros…
Dois anos depois, dia ainda por nascer, o homem faz seu preparo para a São Silvestre. O tórax exibe uma grande cicatriz, mas ele parece não se importar. Afinal, aquele era o seu divisor de águas, o antes e o depois do quase fim de sua vida. O homem do CTI havia emagrecido 14 kilos, deixara de fumar e se descobria atleta. Além disso, procurara um psicólogo e se surpreendia, cada vez mais, com as revelações brotadas do inconsciente. O futuro tinha aroma de dama-da-noite…
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