
Você Está Esgotada Porque Diz “Sim” Pra Tudo
Pessoas sobrecarregadas, geralmente mulheres. É uma das situações que eu mais encontro no consultório.
Cansadas porque não conseguem dizer “não”. Elas têm medo, desconhecimento a respeito de seus desejos, sensação de menos valia, dificuldade em bancar suas escolhas e, muitas vezes, orgulho de ser “pau pra toda obra”.
O que será que fulano vai pensar de mim se eu me negar a fazer isso?
Não serei amada, se não fizer o que estão me pedindo e isso é algo que eu não posso suportar.
Ah, mas não é tão importante assim esse meu compromisso, posso desmarcar porque a demanda do outro é muito mais urgente.
Nossa, não quero criar conflito, não aguento gente brava comigo, então é melhor fazer o que estão me pedindo.
Na verdade, não sei bem se quero isso ou não, então vou fazer o que o outro acha que é certo.
E se eu bancar o que estou querendo? Vou ter que assumir se tudo der errado, então é melhor eu seguir o conselho de fulano.
Adoro ser chamada pra tudo. Me dá sensação de ser muito querida! Me dá muito poder!
E seguem pela vida afora, chorosas, depressivas, com insônia e a sensação de sempre ser abusadas, até mesmo pela própria família.
A pessoa já se acostumou tanto a ser assim que sofre mas, muitas vezes, prefere estacionar no sofrimento do que arregaçar as mangas e tentar entender de onde vem tudo isso.
E o que fazer? Reconhecer que, talvez, não dê conta sozinha, de resolver a situação e precisa pedir ajuda. É preciso coragem para mergulhar pra dentro de si mesma e se auto-conhecer. É preciso coragem para encarar uma psicoterapia.
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Por que tenho medo de lhe dizer NÃO?
“Você pode ficar com os meninos amanhã, pra mim? Vou sair com o Daniel.”
Ela sorriu amarelo. Sua tão planejada noite de queijos, vinhos e filmes acabava de ir por água abaixo. Mas…coitada da irmã. Com 2 filhos pequenos, tinha que se virar para arrumar tempo para o marido.
“Estivemos conversando aqui e achamos que você é a pessoa ideal para ser o novo representante de sala junto ao colegiado. Já foi eleito por unanimidade!”
Recebeu os tapinhas nas costas, sem saber direito o que sentia. Sorriu, sem graça, já antevendo toda a responsabilidade que teria que assumir. Mas…disse “sim”.
“Quem pode levar a mamãe ao médico, na terça-feira, às 8 da manhã? Eu não posso porque tenho que trabalhar.”
“Também não posso, tenho consulta nesse dia.”
“Nem eu. Vou viajar pra São Paulo na sexta e volto na outra quarta.”
“Marina tem prova nesse dia e vou ter que estudar com ela.”
Os olhares se voltaram para a caçula que não teve outro jeito, senão concordar. Ia perder prova na faculdade.
Começara um namoro meio sem querer. Mas…ela parecia tão apaixonada! Engatara o noivado também meio sem querer. Mas…ela lhe era tão devotada! E, agora, ia casar. Também sem querer. Em que ponto havia se perdido de si mesmo?
“Sabe o que é? Eu queria muito fazer terapia com você. Você foi tão bem recomendada! Mas, agora – sabe como é, né? – o país tá numa crise brava e eu não ganho muito. Queria saber se você pode fazer um preço melhor pra mim.”
“Qual é sua proposta? Quanto você sugere?”
“Ah…eu posso pagar 1/4 do valor que você cobra.”
Engoliu em seco. O valor era humilhante. Mas consentiu.
“Estamos com um problema de troca de horário de pessoal. Precisamos cobrir todos os setores, mas não temos gente suficiente. Você pode dobrar na quinta e na sexta?”
Não conseguiu dizer “não”.
Essas pequenas histórias ilustram, de leve, o sofrimento por que passam as pessoas incapazes de dizer “não”.
(Identificou-se com alguma delas?).
Vontade, elas até que tem, de serem assertivas e colocarem seus desejos de forma transparente. Mas uma força maior do que elas mesmas as impede. E o que seria esse “algo”?
Em muitos casos, essa incapacidade pode sinalizar, além de outras coisas:
– Uma vontade incontida de ser aceito e benquisto pelos outros;
– Sensação (que, geralmente, é adquirida na infância e persiste via afora) de que seus desejos não são importantes;
– Vaidade e orgulho;
– Dificuldade de enfrentar um conflito;
– Desconhecimento a respeito dos seus próprios desejos;
– Dificuldade em assumir suas escolhas e as subsequentes consequências de seus atos.
Apesar de todas essas possíveis causas, a origem maior parece apontar para a baixa autoestima. Uma pessoa consciente de quem é, de seus acertos, desacertos e limites, além de madura e responsável, certamente tem equilíbrio e centramento para lidar com as várias situações da vida. Alguém que se ama e se sabe merecedora de atenção – sem ser egocêntrica – jamais se deixará atropelar pelos outros ou por si própria.
Portanto, refaçamos as histórias:
“Você pode ficar com os meninos amanhã, pra mim? Vou sair com o Daniel.”
“Posso, sim. Até às 22 horas. Depois disso, já tenho outros planos.”
“Estivemos conversando aqui e achamos que você é a pessoa ideal para ser o novo representante de sala junto ao colegiado. Já foi eleito por unanimidade!”
“Ah, rapai…vai dar não! Se eu pego isso daí, vai me prejudicar nos estudos. Tô com tempo, não!”
“Quem pode levar a mamãe ao médico, na terça-feira, às 8 da manhã? Eu não posso porque tenho que trabalhar.”
“Também não posso, tenho consulta nesse dia.”
“Nem eu. Vou viajar pra São Paulo na sexta e volto na outra quarta.”
“Marina tem prova nesse dia e vou ter que estudar com ela.”
Os olhares se voltaram para a caçula que disse:
“Nossa! Nesse dia não posso! Tenho uma prova superimportante na faculdade e não vou ter nova chance de fazê-la. Vocês todos, têm mesmo certeza absoluta de que não vão poder acompanhar mamãe?”
Começara um namoro meio sem querer. Mas…ela parecia tão apaixonada! Engatara o noivado também meio sem querer. Mas…ela lhe era tão devotada! E, agora, ia casar. Também sem querer. Em que ponto havia se perdido de si mesmo?
Ele mesmo responde: “Foi quando não soube reconhecer meus limites e me atropelei. Mas, por mais duro que possa parecer, ainda dá tempo de retroceder. Preciso de ajuda profissional. Antes tarde do que nunca.”
“Sabe o que é? Eu queria muito fazer terapia com você. Você foi tão bem recomendada! Mas, agora – sabe como é, né? – o país tá numa crise brava e eu não ganho muito. Queria saber se você pode fazer um preço melhor pra mim.”
“Qual é sua proposta? Quanto você sugere?”
“Ah…eu posso pagar 1/4 do valor que você cobra.”
“Nossa, que pena! Eu tenho um valor mínimo e me pauto por ele. Infelizmente, o que você está propondo está muito aquém do que é interessante para mim. Mas, se quiser, posso te indicar profissionais que fazem um preço social.”
“Estamos com um problema de troca de horário de pessoal. Precisamos cobrir todos os setores, mas não temos gente suficiente. Você pode dobrar na quinta e na sexta?”
“Posso na quinta. Na sexta, já tenho compromisso agendado.”
Agora, pare e reflita: se você também sofre com essa situação, responda:
– O que de pior poderia me acontecer se eu dissesse “Não”? E como eu reagiria?
– A quem temo desagradar?
– De onde surge esse dificuldade?
E saiba que, acima de tudo, quem diz muito “sim” para os outros, é porque está dizendo muito “não” para si mesmo.

Construindo Um Relacionamento Feliz – parte 1
Ministro palestra em curso de noivos da igreja católica há vários anos. Quando olho aqueles jovens, geralmente entre 25 e 35 anos, penso comigo: “Não sabem de nada, inocentes!”
Acontece que só saberão, mesmo, se se casarem, dormirem e acordarem juntos, usarem o mesmo banheiro e brigarem por toalhas molhadas em cima da cama, além de outras situações similares.
Mas penso que a construção de um relacionamento feliz pode ser menos sofrida e amenizada se levarmos em consideração algumas coisas:
1) Seria bastante interessante se os casais começassem a pensar sobre essa questão ainda no namoro (apesar do momento atual em que se sobressaem os(as) ficantes e peguetes, eu acho que ainda existem namoros, isto é, como diz o dicionário, “terem duas pessoas relacionamento amoroso contínuo ou por um período de tempo”). A dificuldade é que, na fase da paixão, somos inundados pelo neurotransmissor dopamina, o que nos proporciona uma sensação de êxtase. O mundo é lindo, os passarinhos cantam e só queremos ficar ao lado do(a) amado(a). O resto do mundo não importa, como incontáveis canções, no mundo inteiro, se encarregam de nos lembrar. Nessa hora, ninguém conta ao outro que ronca ou que dorme de rolinhos no cabelo, certo? Usamos máscaras o tempo todo, porque queremos “estar bem na fita”. Só que ninguém aguenta esse nirvana muito tempo, pois temos que trabalhar, estudar, viver e, portanto, aquele arrebatamento vai se tornando mais discreto, dando lugar à fase do amor. É a fase pé no chão, na qual começamos a perceber que “o cara” e “a gata” têm vários defeitos e nos decepcionamos com isso. Mas então entendemos que não dá pra ficar somente com a parte agradável e aprendemos a ceder e a entender melhor nosso par, no intuito de continuarmos o relacionamento. Ou aceitamos o pacote todo ou, então, partimos pra outra. É nessa hora que muita gente se separa, porque não está muito a fim de lidar com frustrações. A terceira fase é a mais difícil: a crise. Acontece sempre que entra um 3º na relação e não necessariamente precisa ser um(a) amante. O marido ficou desempregado, a sogra foi morar junto com o casal, nasceu um filho, a mulher quer fazer um concurso mas só tem vaga para outro estado etc. É hora de repensar o que está dando certo e o que tem que ser reestruturado. Nessa fase é que entra, na maioria das vezes, um psicoterapeuta para ajudar a clarear os caminhos que o casal está percorrendo e pretende percorrer.
2) Todos viemos de uma família. Não importa se não conhecemos pai, mãe, se os tivemos presentes ou ausentes, se foram severos ou cordatos conosco, mas ninguém é filho de chocadeira. E, nesse contexto, o primeiro amor de todos nós foi a mãe ou quem fez sua função (uma madrinha, a avó ou até mesmo o pai). É através da mãe que aprendemos a amar e a nos relacionar com os demais. Mas essa simbiose deliciosa requer um corte, para que possamos nos constituir como pessoas separadas dela. Então, a figura do pai será preponderante para que nos lancemos ao mundo. Pessoas que não tiveram a sorte de ter a mão do pai empurrando-os, tornam-se eternos dependentes e “filhinhos da mamãe”. Provavelmente, terão dificuldades nos relacionamentos posteriores. Além disso, fomos criados em um lar, com suas crenças, mitos, religião, direitos e deveres. E assim aconteceu com nossos pais, avós, bisavós etc. Portanto, o que chegou a nós pode ter tido origem há muitos anos e seguimos repetindo, meio sem saber o porquê e se faz sentido na nossa vida. Acontece que os traços familiares são muito fortes e é a mais absurda ingenuidade pensarmos que nos livraremos deles tão facilmente. Porque, querendo ou não, estão esculpidos no nosso inconsciente, guiando nossas ações. Quer um exemplo? Tive um cliente que almoçava todos os domingos com seus pais, exatamente como faziam todos os irmãos casados. A esposa, no começo, não se importava. Pouco depois, começou a ficar incomodada com aquela tradição e se pôs a pressionar o marido, que foi incapaz de “trair” a família de origem. Começaram, aí, as brigas. Dessa forma, procure saber as histórias de sua família: porque reagem assim ou assado, em que geração isso começou, porque é importante – ou não – manter a tradição e seja transparente com seu par. Conte a ele sua história familiar e veja como reage. Converse! Exponha sua verdadeira face! Essa é a hora!
…..Continua no próximo post: Construindo Um Relacionamento Feliz – parte 2
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Construindo Um Relacionamento Feliz – Parte 5
Uma das coisas que mais cria confusão entre os casais é a comunicação truncada: aquela que gera muitas dúvidas, que diz sem dizer, que deixa reticências no ar e dá espaço às fantasias ou que é dura e causa mágoas.
Uma boa comunicação requer um emissor, um receptor, uma mensagem e um canal. Mas, às vezes, pode haver ruídos nessa comunicação. Portanto, torna-se necessário que prestemos atenção, também, a dois aspectos da comunicação: o conteúdo e a forma. Imaginemos uma cena na qual o conteúdo é muito, muito duro, mas a voz suave, o olhar terno e a empatia amenizam o impacto das palavras. Portanto, é necessário saber nos colocar no lugar do outro e pensar, primeiramente, como nos sentiríamos se estivéssemos ouvindo o discurso que ameaçamos professar.
Como sou muito prática e objetiva, gosto de exemplos e ilustrações. Então, que tal ler, antes, essa historinha e imaginar a cena? Clique AQUI
Faz sentido pra você?
Agora, observe a tirinha que ilustra esse artigo. Você verá que a tubaroa “amarra a cara” para seu marido tubarão. Observador que é, dos gestos e expressões faciais de sua amada, o Sr. Tubarão a inquere: Afinal, o que está acontecendo? A Sra. Tubaroa permanece irredutível, apesar de ser visível que algo não vai bem. De tanto insistir e fazendo um malabarismo linguístico, ele arranca – mais ou menos – a confissão de sua cara-metade: o mau humor da fêmea relaciona-se a algo que ele não foi capaz de adivinhar e suprir.
Olha, cidadão, se tem uma coisa que mulher gosta muito é que o parceiro, só de olhar pra ela, já lhe adivinhe os pensamentos. E, até onde eu sei, não existe curso de telepatia, certo? Não dá pra saber o que sua mulher pensa, sente, deseja se ela não falar claramente. Então, quando você – oh, insensível! – não é capaz de se antecipar aos desejos dela…você causa uma frustração muito grande e pá!!! Ela vai achar algum jeito de te pagar na mesma moeda. Sabe seus planos pra hoje à noite? Pois, é…esquece. Conseguiu se reconhecer nessa ou em alguma outra situação parecida?
Vocês – homens e mulheres – conseguem também perceber quantos pequenos e grandes problemas poderiam ser evitados se nos dispuséssemos a dialogar de uma forma mais eficiente, sem acusações, comparações e competições? Mas por que não fazemos isso? Porque dá muito trabalho se autoconhecer e, por comodismo, vamos empurrando a poeira pra debaixo do tapete, até que a sujeira cresce tanto, que acabamos tropeçando nela. Quem investe no autoconhecimento, conhece e nomeia seus sentimentos e sensações e, portanto, pode se expressar melhor nos diálogos que estabelece. Mas, ainda que seja um trabalho árduo e contínuo, é melhor evitar dar com a cara no chão, porque a dor pode ser muito maior do que se déssemos mais valor ao conhecimento de nossos limites e potencialidades.
Um outro aspecto que costuma causar dissabores entre os casais se refere à prodigalidade em fantasiar e imputar aos outros aquilo que pensamos, quando, às vezes, a situação nem sequer havia passado pela mente de nosso interlocutor. Quer um exemplo? Mais uma historinha que dá muito o que pensar:
“Conta-se a história de um casal que tomava café da manhã no dia de suas bodas de prata. A mulher passou a manteiga na casca do pão e o entregou para o marido, ficando com o miolo.
Ela pensou:
“Sempre quis comer a melhor parte do pão, mas amo demais o meu marido e, por 25 anos, sempre lhe dei o miolo. Mas hoje quis satisfazer meu desejo. Acho justo que eu coma o miolo pelo menos uma vez na vida”.
Para sua surpresa, o rosto do marido abriu-se num sorriso sem fim e ele lhe disse:
“Muito obrigado por este presente, meu amor… Durante 25 anos, sempre desejei comer a casca do pão, mas como você sempre gostou tanto dela, jamais ousei pedir!”
Moral da história, da vida a dois:
1. Você precisa dizer claramente o que deseja, não espere que o outro adivinhe.
2. Você pode pensar que está fazendo o melhor para o outro, mas o outro pode estar esperando outra coisa de você….
3. Deixe-o falar, peça-o para falar e quando não entender, não traduza sozinho. Peça que ele se explique melhor.
4. Esse texto pode ser aplicado não só para relacionamento entre casais, mas também para pais/filhos, amigos e mesmo no trabalho.”
Gostou? Então sugiro que, se você ainda não o faz, passe a dizer a todos se prefere a casca ou o miolo. Sob pena de comer o “pão que o diabo amassou” por longos e longos anos. E continuar culpando o diabo por sua infelicidade.
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Construindo Um Relacionamento Feliz – Parte Final
Bem, chegamos ao final da construção do relacionamento feliz. Chegamos? Não, essa frase foi somente pra você se animar e continuar a ler até o final, haja vista que o nosso investimento na vida só termina quando…a vida termina.
Pra se ter ideia de como as relações interpessoais – dentre elas, as amorosas – podem determinar a felicidade ou a infelicidade de alguém, Freud, o criador da psicanálise, em “O Mal Estar da Civilização”, expôs as 3 fontes de sofrimento humano: a NATUREZA e suas intempéries (vulcões, avalanches, enchentes e similares), o ENVELHECIMENTO (juntamente com as doenças e a morte) mas, principalmente, o RELACIONAMENTO com as outras pessoas. Relacionar-se requer virar adulto, consciente de seus deveres e responsabilidades pois, quem quer somente ter direitos, ainda não está preparado para construir algo em comum. Quem exige, bate o pé, faz pirraça, é criança e criança não namora e não casa.
E para ter o ônus e o bônus de ter um parceiro(a) é preciso, antes de mais nada, ser um SER por inteiro e desistir de todo o folclore que nos encheram os ouvidos, desde sempre, a respeito do amor romântico. Suavidade e fantasia, sim, mas com os 2 pés no chão.
É preciso ter interesses e amigos próprios e um trabalho do qual se goste, para poder compartilhar com o(a) amado(a) um plano em comum. Urge ser interessante para o(a) parceiro(a) e interessado nele(a). É preciso ser como o conjunto de interseção da matemática: uma parte individual para poder ascender ao caminho em comum
Portanto, caro leitor, se quiser ser feliz no amor, pode se preparar para, dia-a-dia, cimentar alguns tijolinhos de paciência, compreensão e companheirismo no prédio do seu relacionamento. E faça com que a base seja larga e profunda, pois construção que é feita de qualquer jeito, tende a desmoronar.
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Força De Vontade X Desejo
Na segunda-feira, quando o despertador tocou, abriu os olhos e puxou um pouco a cortina. Ainda estava muito escuro. Suspirou lentamente. A orientação médica não deixava dúvidas: teria que emagrecer bastante, se quisesse viver mais e com qualidade de vida. E no pacote “Perca 20 kgs já!” estava inserida a atividade física.
Na noite anterior, havia deixado a roupa e os tênis prontos, de modo a facilitar a vida. A mensalidade já havia sido paga, porque esse negócio de vou fazer caminhada na rua não funcionava com ele. Tinha que doer no bolso. Mas o que doía mais era ter que sair de debaixo das cobertas quentinhas, quando os termômetros anunciavam 13º C. E levantar os 110 quilos, tontos de sono, daquela maciez dos lençóis era aviltante. Porém, teria que ter força de vontade. Não era isso que diziam? Que sem força de vontade não se faz nada na vida? Que não se atinge os objetivos? Então, clamando pela Nossa Senhora da Força de Vontade, ele sentou na cama e abriu novamente as cortinas. Estava começando a chover. Resolveu deitar de novo. Começaria amanhã.
Você já passou por situação semelhante, caro leitor? Talvez você não tenha peso a perder, mas tem aulas a assistir, provas a fazer, concursos a realizar, dinheiro a economizar, cigarros a eliminar. Ou qualquer outra situação que exija força de vontade para chegar lá. Então, vamos examinar mais de perto o que seja esse conceito.
Segundo alguns sites, a força de vontade é a capacidade de esforço de um ser humano para cumprir com um plano de ação em consequência de um objetivo. Que lindo! Até aí tudo bem, se fosse assim tão fácil. Se dependêssemos somente da razão, não fumaríamos, porque cigarro causa câncer; estudaríamos mais, porque sem estudo não vamos muito longe, em termos profissionais e pessoais; comeríamos comidas mais saudáveis, porque queremos viver mais e melhor. Seria somente uma questão de pensar assim: Muito bem, quero ter mais qualidade de vida, então, como sei que a probabilidade de ficar doente é imensa se continuar a fumar 2 maços de cigarro por dia, a partir de agora não fumo mais. E seguiríamos felizes pela vida, deixando no passado o gosto pela nicotina. Mas é assim que acontece? Até a mais ingênua das pessoas sabe que isso é utopia. A não ser que…
Essa situação aconteceu com meu avô. O médico foi explícito e assertivo quando disse: “ou para imediatamente de fumar ou vai morrer logo!.” Vô Tião levou um susto! Porque amava a vida. Amava tanto que fazia coisas que nunca fiz: acampava, ia a bailes de carnaval fantasiado, adorava uma massa bem feita e era muito brincalhão. Um verdadeiro vôzinho fofo, de bigode branco. Depois do ultimato médico, podíamos sentir seu sofrimento pela ausência do cigarro. Mas ele parou imediatamente. Tanto que viveu mais uns 30 anos e viveu muito bem.
Então, qual a diferença entre meu Vô Tião e aquela pessoa que não tem nenhuma força de vontade? A diferença, caro leitor, é algo que Freud chamou de inconsciente. O Pai da Psicanálise dizia que O Ego não é o senhor na sua própria casa, o que quer dizer que podemos decidir que, sim, amanhã, sem falta, vamos nos exercitar na academia. Mas basta um entrave pequeno, tipo frio e chuva (nunca ouvi falar que chovesse dentro de uma academia), para fazer com que nosso inconsciente explicite nosso desejo: “Ah, quer saber? Não quero emagrecer, não, porque o prazer de comer é imediato e o prazer de viver mais magro vai demorar muiiiiito a aparecer. Portanto, vou ficar aqui, bem quentinho debaixo desse cobertor, e deixa o pau quebrar lá fora.” E então, enquanto não aparece o DESEJO, vamos nos deixando ludibriar pelo conceito de força de vontade.
A força de vontade dá muito trabalho. Fale em voz alta, agora. “Força de vontade…”Não parece que você está despendendo muita energia, muita potência, muito esforço? Ufa, que canseira!!! Agora fale “desejo…desejo…desejo…”. Não soa muito mais suave? Mas em contraponto a essa suavidade, o desejo é avassalador! Quando ele irrompe, sai de baixo! Quando ele irrompe e você se projeta no futuro e se vê passando naquele concurso tão almejado, você arregaça as mangas e estuda, mesmo se estiver chovendo canivete. Porque abdica do prazer imediato para desfrutar do prazer imenso que virá quando tiver conseguido seu objetivo.
Gostaria de fazer uma última sugestão: caso você esteja passando por alguma situação parecida com as que descrevi acima e perceba que está se autoboicotando, pergunte a si mesmo e seja sincero nas respostas:
1) Quero realmente alcançar tal objetivo?;
2) Se quero, porque não ajo de acordo a consegui-lo?;
3) O que pode estar me travando?;
4) Será que esse objetivo é meu, mesmo, ou está sendo imposto por alguém? (pai, mãe, namorado, marido, namorada, esposa, professor, chefe etc);
5) Após refletir, que decisão tomo? Pegar ou largar?
Caso você tenha dificuldades para responder essas perguntas, uma boa psicoterapia, com certeza, vai ajudar.
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Insônia
A cena se repete: chá de camomila com maracujá, distância da televisão e do celular, leitura um pouco antes, meditação guiada por uma voz monótona, quarto escuro e arejado. E ele vai pra cama. Depois de 2 horas e meia de inquietude, decide levantar. Vagueia pela casa, abre as cortinas e observa a lua e as luzes dos apartamentos ainda pulsantes. Pensa em ligar a TV, mas desiste quando o relógio informa que já são 3 da madrugada. Volta pra cama. Adormece lentamente até que um sonho de angústia o desperta. O relógio marca 3:47 horas. Senta-se, respira, os olhos ardendo e a cabeça doendo. Levanta-se e vai à cozinha, em busca de um analgésico. Sente a raiva e o mau humor irrompendo e a angústia do nascer de mais um dia, que ameaça ser improdutivo.
Já havia tentado de tudo: eletroencefalograma, polissonografia, psiquiatra, antidepressivo, exercício físico, indutor do sono, melatonina. Nada apontava para uma causa, nenhum medicamento cumpria totalmente seu papel, nada resolvia. Sentia-se exausto, infeliz, improdutivo, com raiva do mundo e de si mesmo. Onde poderia estar o nó de toda aquela situação, que começara na adolescência? Pressentia que, no íntimo, sabia a resposta, mas não conseguia acessá-la. Uma névoa cinzenta e densa escondia a causa. Foi quando bateu o olho no cartão da psicóloga, oferecido pelo psiquiatra na última consulta. Só faltava essa agora! Contar sua vida para gente estranha. E se nem o indutor do sono tinha dado jeito nessa encrenca, como é que um bate-papo iria conseguir essa façanha? Mas, se você não chega à cura pelo amor, chega pela dor. O desespero levou-o a zapear a profissional. Ela só tinha horário para a semana seguinte. “Menos mal” – pensou – “eu tenho uma semana pra resolver esse suplício e, então, não vou precisar ir à consulta”. Mas ele sabia que não seria assim. Não se resolve um problema de 33 anos em uma única semana.
O fato é que não conseguiu e lá foi ele para a primeira sessão. Gostou dela e contou coisas que nunca havia contado a ninguém, tanto que resolveu voltar. E voltou na semana seguinte. E na outra, quando ela, muito atenta, lhe fez uma pergunta à queima-roupa:
– O que você tanto precisa vigiar?
– O quê?, perguntou espantado.
Ela não repetiu a pergunta e, encarando-o afetivamente, esperou pela resposta. Magica e subitamente, ele foi transportado aos seus 12 anos de idade, na casa onde vivia com os pais e os 3 irmãos. Um barulho na sala o fez levantar-se. Os pais conversavam baixinho e a mãe chorava. O pai a abraçava e tentava acalmá-la:
– O que vai ser de nós? Como vamos viver sem você? Isso não pode estar acontecendo…
– Calma, você está colocando o carro adiante dos bois. Ninguém disse que eu vou morrer, o médico só falou que a doença progrediu e que o tratamento é agressivo, mas que tenho grandes chances.
A mulher olhou para o marido, os olhos azuis inchados de tanto chorar, as fácies contraídas pelo sofrimento:
– E se…não der…certo? O que vamos fazer?
Segurando as mãos da mulher, o marido não respondeu.
Lembrou-se de ter-se trancado no banheiro, o coração disparado, o sangue subindo pelo rosto. Era isso mesmo que havia ouvido? O pai ia morrer? Ali ficou por um bom tempo e viu a aurora irromper janela adentro.
Os dias seguintes foram muito, muito difíceis. Passava as noites acordado, vigiando a respiração do pai e o bem estar dos 3 irmãos menores. Após alguns meses, o pai partiu e ele assumiu a cadeira de homem da casa. Precisava estar alerta, prestar atenção ao menor sinal que colocasse em perigo a família. Carga extremamente pesada para um adolescente.
E a vida prosseguiu, como todas as outras vidas que têm que ser vividas…
Ela, enfim, repetiu, pausadamente:
– O que…tanto…você…precisa vigiar? Por que…não pode…se entregar…ao sono?
Foi então que ele irrompeu no choro mais copioso e sincero de sua vida. Chorou pela falta do pai, pela pena que sentia da mãe e dos irmãos, pelas oportunidades perdidas porque tinha que vigiar, prover, acatar, acolher. Chorou por tudo o que poderia ter sido e não foi. Quando se acalmou, a profissional, de forma cuidadosa e afetiva, colocou uma cadeira à sua frente, em cima uma almofada e pediu-lhe que dissesse ao “pai” tudo o que gostaria de ter dito, desde o momento em que ficou sabendo de sua doença, tudo o que foi escondido e engolido por aquele menino de 12 anos, cujo único desejo era o de salvar a família. Mais uma explosão de choro avassalador e as frases finais:
– Foi muito difícil ficar sem você pai. Foi muito difícil passar a zelar por essa família, foi uma carga pesada demais sobre meus ombros de menino. Por isso, pai, eu saio desse lugar e te devolvo a sua função de pai, mesmo que você, fisicamente, não esteja mais aqui. Mas você está sempre dentro do meu coração. Eu fico, agora, no meu lugar de filho. Eu sou somente seu filho mais velho. Obrigado, pai!
Naquela noite, dormiu como um recém-nascido. Tanto que perdeu a hora para o trabalho e decidiu ficar em casa, como um menino levado que mata aula na escola.
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Vou Te Contar Porque Seu Sucesso Me Incomoda Tanto
Olá! Hoje eu resolvi te contar porque seu sucesso me incomoda tanto. Já que você não vai ler essa carta mesmo, vou rasgar o verbo, falar na lata os motivos pelos quais te stalkeio e te dou várias alfinetadas, através do meu perfil fake. Também vou te revelar como estou conseguindo me livrar disso.
Em primeiro lugar, tenho inveja de você. Do seu bom casamento, da sua família perfeita, do carrão que você comprou recentemente, da sua casa impecável, das suas roupas de grife, dos lugares que você frequenta, das viagens que você faz e das comidas que você come. Perco um tempo enorme na internet vasculhando sua vida, buscando um sinalzinho qualquer que me faça crer que você também tem dor de cabeça. Porque o que você mostra é a vida de uma pessoa vitoriosa, com um poder aquisitivo descomunal e os dias lotados de prazer. Minha razão me diz que não pode ser sempre assim, que você, de vez em quando, amanhece de cara amassada e olhos vermelhos, pela insônia que te fez companhia a noite toda; que você se preocupa quando um filho chega de madrugada. Mas, logo o meu pensamento mágico me diz que você nunca soube o que é insônia, pois acorda sempre sem um único fio de cabelo fora do lugar. E imagino que você tenha guarda-costas e motorista, para trazer seu filho são e salvo. Realidade bem diferente da minha, que ralo o dia todo pra honrar minhas contas. À tarde, você está em algum evento de gente fresca, enquanto eu estou na prisão que é meu emprego; pego um trânsito cruel de volta à casa, enquanto você vai jantar, em plena terça-feira, na mansão vizinha do seu condomínio elegante. Eu me comparo com você e perco de longe. E acho injusto eu remar contra a maré e você se dar tão bem na vida, só porque nasceu em família rica e bem relacionada, só porque tem fama e milhares de seguidores. E isso me dá muita, muita raiva! Você não faz nada de útil, sabe, só esfrega na minha cara sua vida perfeita, enquanto eu não sei se terei emprego no mês que vem. Injusto, tremendamente injusto! E o tanto de presentes que você ganha! Ganha!!! Sem fazer o menor esforço, simplesmente porque tem uma cara bonita e dinheiro a rodo. E você não precisa desses presentes, poderia comprá-los se quisesse. Mas, como dinheiro chama dinheiro, sorte chama sorte.
A obsessão pela sua vida estava virando doença. E você nem sabe que eu existo. Minha psicóloga me chamou a atenção pra isso (Bendita terapia! Ela me salva de enlouquecer!). O tempo que eu perdia te stalkeando era inacreditável. Diz ela que eu poderia usar esses momentos para cuidar mais de mim, da minha vida, dos meus projetos. Investir no meu potencial. Ela diz, também, que as comparações são sempre injustas porque sempre vai existir uma pessoa mais bonita do que eu e outra mais feia, uma mais alta e outra mais baixa, uma mais rica e outra mais pobre. Dessa forma, segundo ela, a comparação tem que ser intrapessoal. Ou seja, eu comigo. Na sessão passada, ela me pediu pra fazer uma lista de quem eu era e do que havia conquistado, de um ano pra cá, e também pra fazer uma comparação com o que sou e tenho agora. Isso me obrigou a ver que dei um up, que progredi, sim, em todos os sentidos. Sabe que essa constatação foi importante pra mim? Realmente, não havia percebido minha evolução. Estou melhor fisicamente, me conheço mais, terminei o curso, tenho emprego, ainda que chato, mas não valorizava nada disso, aliás, sua grama – na minha concepção – era muito mais verde do que a minha. “Ok – diz ela – pode ser, sim, no quesito fama, grana, e condições sociais, de uma forma geral. Mas é uma ilusão absolutamente infantil acreditar que essa criatura é imune aos reveses da vida. Se é ser humano, pode ter certeza absoluta que ela também passa seus perrengues. Ou você acha que essa pessoa vai ser louca de postar foto na hora da indisposição estomacal ou da dor de barriga? Claro que não! Porque esse lado humano iria destruir tudo o que você e os seguidores fantasiam a respeito dela. Então, é você que dá a ela todo esse poder de um super-herói, na medida em que a enxerga como a perfeição encarnada. Além do mais, eu não sei se você já ouviu falar de um psicanalista francês chamado Jacques Lacan. Lacan dizia que o homem não se importa muito nem em ser nem ter. O que dá status, de uma certa forma é parecer ser. Era o que ele chamava de Faire Semblant, que é um termo que designa falsidade, engano, fingimento. Então, ao invés de ficar com raiva ou inveja dessa pessoa tão espetacular, comece a entender que tudo o que ela posta é jogada de marketing para fisgar seguidores e stalkeadores como você.”
Depois, ela me sugeriu duas coisas, para me ajudar a me livrar dessa obsessão pela sua vida. Ela me propôs desinstalar o instagram, pelo menos por algum tempo. Ela me disse que minha qualidade de vida iria melhorar, uma vez que eu utilizaria esse tempo, gasto inutilmente, com algo que valesse a pena. “Vá olhar para você, pra sua vida, para os seus projetos!”
Ela sugeriu, também, que toda vez que eu pensar em você, em suas viagens de jatinho e suas festas bárbaras, e sentir que a raiva e a inveja estão subindo garganta acima, que te imaginasse correndo para o banheiro e se contorcendo de dor de barriga. Então, visualizo você disparando pelo corredor do restaurante, com cara de sofrimento e segurando as calças. Daí, você tenta abrir a porta do banheiro, mas ela está fechada. Está ocupado e você, desesperadamente, esmurra a porta, gritando para a pessoa sair, pelamordedeus! Quando você está suando frio…..ahhhhhh!!!!…..finalmente aquele desgraçado sai e você entra feito uma bala. Olha, vou te dizer uma coisa: ainda não me livrei totalmente do meu complexo de inferioridade, mas essa visualização tem me ajudado muito a te ver como um ser humano falível. E chego até a desejar que você seja feliz, ainda que continue a fazer Faire Semblant.
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Dicas Práticas Para Se Fazer Uma Escolha

Gosto Não Se Discute
O rapaz à minha frente lotou o prato de ovos cozidos ao molho branco. Meu estômago revirou 15 vezes e desviei o olhar da cena. Odeio ovo cozido, quase na mesma medida em que odeio molho branco. Mas, pelo visto, o rapaz era louco por tão inusitada…Argh!…iguaria.
Gosto de animais: no zoológico ou na tela do Animal Planet. Nunca seria veterinária. Mas conheço gente que faz dessa profissão a razão do seu viver. Dormem rodeadas por seus cachorros e gatos e, pela manhã, alimentam seus hamsters e peixinhos de forma carinhosa.
Odeio cozinhar! Com todas as forças do meu ser! Levo 3 horas para fazer um almoço ridículo. Enquanto isso, Rita Lobo, Alex Atala e os chefs formados pela Le Cordon Bleu enchem os bolsos de dinheiro, advindo, muitas vezes, da mistura de ingredientes exóticos. Dia desses, saía eu do supermercado, quando um jovem me abordou, insistindo para que eu comprasse as panelas do Masterchef:
– Se a senhora assiste Masterchef, Ana Maria Braga e outros programas parecidos, a senhora já deve ter visto que maravilha é essa panela! E o preço está excelente, a senhora nem vai acreditar.
– Te agradeço muito, mas nesse momento não tenho interesse.
– Ah, não! Dá uma olhadinha aqui, tenho certeza de que a senhora vai se apaixonar.
– Moço, sinto muito, mas você abordou a pessoa errada, disse-lhe gentilmente. Odeio cozinhar, da mesma forma que abomino a ideia da 3ª guerra mundial. Obrigada, mas…não!
Fiquei com dó do rapaz, pois, pela expressão dele, vi que não estava preparado para uma pessoa com tanto desamor por picar legumes e refogar carnes.
Um outro dia, minha filha mais velha me disse:
– Olha que horror as panelas aqui de casa! Todas amassadas! Você tem que comprar panelas decentes!
Olhei dentro dos olhos dela, aproximei-me lentamente, fiz um gesto com a mão, deslizando-a no ar, por todo o meu corpo e disparei dramaticamente:
– Olha bem pra mim. Vê se eu tenho cara de quem compra panela? O que eu gastaria nessa panela de marca, que você está me sugerindo comprar, eu pago um baita almoço pra nós duas, em euro. E com vinho da melhor marca, hein?
Tenho horror a cozinhar mas amo comer. Então, se você se dá bem com temperos e misturas, pode me convidar pra jantar, ok? Agora, se nesse jantar, as turmas forem divididas em clube da Luluzinha e do Bolinha, vou abrir uma cerveja e me juntar aos homens pois, provavelmente, não darei conta das trocas de receitas que certamente acontecerão.
Também detesto salto alto. A altura máxima a que me atrevo são 7 centímetros. Uma vez ao ano, somente. Em compensação, conheço mulheres que têm encurtamento de panturrilha e sofrem de dor ao usar sapatilhas, acostumadíssimas que são ao salto 12.
Amo viajar! Mas tenho amigas que dão tudo o que tem para não arredar o pé do seu próprio estado. Aliás, se nem saírem do bairro, melhor ainda.
Nunca fui – e nem pretendo ir – aos Estados Unidos e Austrália, a não ser que ganhe a viagem. Prefiro as cidades medievais da Itália e as ruínas do Parthenon. Mas tem gente que economiza o ano inteiro para passar as férias nas filas dos parques da Disney e nas outlets de Miami.
Leitura faz parte da minha vida desde sempre. Já outros, contam nos dedos da mão direita quantos livros leram durante toda a sua existência. E olha que vai sobrar muito dedo.
Não me convidem para assistir Star Wars. Acho tudo muito estranho, esquisito, bizarro, exótico, incomum, extravagante…Mas sei de gente que usa o capacete do Darth Wader como decoração do quarto.
Frio me dá dor nos ossos. Vai pra Paris em janeiro? Vai com Deus! Eu fico por aqui e darei um pulinho em Porto de Galinhas.
O fato de amar viagens e livros e detestar ovos cozidos e panelas não me torna melhor nem pior do que aqueles que os amam. E vice-versa. É, somente, a parte que me torna singular, única no mundo, um lado da minha personalidade, formada a partir das interações que vivi desde meus primeiros minutos. É autoconhecimento e autoaceitação, na medida em que não extrapolo meus limites, fazendo algo que me violenta. E, ainda, pensando dessa forma, não julgo nem ataco os outros porque detestam ler e só assistem ficção científica. Provavelmente, têm motivos para isso, que fogem à compreensão de seus interlocutores imediatos, justamente porque não podem captar a totalidade do que compõe um ser humano. Mas também não quero, em contrapartida, ser rotulada como uma pessoa desprezível somente pelo fato de que não desejo o Rex ou o Bob abanando seus rabos, enquanto seguem meus passos.
Respeito. Tolerância. Consideração. Empatia. Compaixão. Entendimento. Acolhida. Na verdade, é tudo isso que todos queremos mas que, infelizmente, são emoções e sentimentos bastante escassos e pouco vividos na prática, sobretudo se passarmos os olhos pelas redes sociais. Os ataques verbais, escritos e gestuais, fazem-se presentes na medida em que alguém se julga mais justo, correto, inteligente e esperto do que o outro. Hoje mesmo, fiquei sabendo de uma conhecida blogueira que se diz cansada da exposição nas redes, haja vista a quantidade de ataques gratuitos que vem recebendo de seus seguidores. E tudo porque ela emite opiniões que não são do agrado de todos, o que, diga-se de passagem, é utopia.
Gente generosa e de bem com a vida, que deita a cabeça no travesseiro e dorme tranquilamente, não perde tempo com críticas destrutivas nem com desacatos a terceiros que nem conhece pessoalmente. Gente do bem, madura, com autoestima elevada, não se sente intimidada quando ouve teses contrárias às suas. Somente se limita a aceitar o outro, como ele dá conta de se apresentar. E, se for mais equilibrada, ainda dirá:
– Que interessante seu ponto de vista! Não gosta mesmo de cozinhar? Por quê? Me conta mais um pouco sobre isso.
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