
Nem Todo Nascimento Gera Alguém
Minha filha caçula, que acabou de iniciar a faculdade de psicologia, está estudando neuroanatomia e eu a estou ajudando a entender o sofisticado e lindo processo de gerar um ser humano.
Entre nomes complicados, como folhetos embrionários, notocorda, clivagem etc, eu me peguei pensando sobre o nascimento biológico e o nascimento psíquico.
O 1° é fácil de entender: o bebê sai do útero materno, chora e pronto, nasceu.
Já o 2° é bastante complexo: aquela criatura indefesa precisa de um adulto responsável que o alimente, troque suas fraldas, o aqueça e, mais do que isso, implante nele a vontade de viver.
O bebê precisa que a mãe o beije, abrace, aconchegue, que lhe diga que ele é a coisinha mais linda do mundo, que ria para ele, que o amamente ou lhe dê a mamadeira e o olhe diretamente nos olhos, com imensa ternura.
Se algum incidente acontece nesse percurso – o bebê fica retido no hospital ou a mãe tem depressão pós-parto, por exemplo – a sensação da criança é de ter sido abandonada, é de não ser suficientemente boa para tomar a vida com alegria.
E quais as consequências disso? Poderá existir, posteriormente, alguma lacuna que poderá se traduzir em baixa autoestima, agressividade e carência afetiva, além de outros sintomas maiores.
E como essas questões se manifestam, na prática? Eis alguns exemplos:
Uma pessoa começa a namorar alguém que claramente não a trata bem, mas aceita qualquer migalha de atenção porque tem medo de ficar sozinha. Isso pode resultar em relações abusivas ou insatisfatórias.
Alguém precisa constantemente da validação do parceiro, dos amigos ou da família para se sentir bem. Se não recebe mensagens frequentes ou elogios, fica ansioso(a) e inseguro(a).
A pessoa exagera no uso de redes sociais, postando constantemente para receber curtidas e comentários, pois isso traz uma sensação momentânea de preenchimento emocional.
Alguém evita expor sua opinião ou dizer “não” para não desagradar os outros, mesmo que isso vá contra seus próprios valores e necessidades.
Para suprir a falta de afeto, a pessoa pode desenvolver hábitos como comer compulsivamente, gastar dinheiro de forma impulsiva ou até se envolver em relacionamentos casuais sem critério, apenas para sentir conexão momentânea.
A pessoa sente um grande desconforto quando está sozinha e precisa sempre estar cercada de gente, mesmo que sejam companhias tóxicas.
Todas as pessoas que tiveram alguma carência pós-nascimento desenvolverão esses quadros? Não, porque cada ser humano é único e somos formados por uma variedade de facetas.
Porém, caso haja alguma identificação com essas questões, é vital buscar ajuda psicológica, para que as feridas abertas não continuem a sangrar.
Learn MoreO Maior Segredo Para Ter Bons Relacionamentos
Todos os relacionamentos passam pelo autoconhecimento.
Saber o que você gosta, o que não gosta, o que tolera, o que não tolera, para onde deseja ir, seus valores, suas crenças e desejos farão toda a diferença na qualidade e leveza das suas relações.
Como conseguir um autoconhecimento maior e melhor?
Faça a você mesmo (a) as perguntas acima. Se puder escrever as suas respostas, melhor ainda.
Esse é o maior segredo para se ter relacionamentos que valham a pena.

Você Está Esgotada Porque Diz “Sim” Pra Tudo
Pessoas sobrecarregadas, geralmente mulheres. É uma das situações que eu mais encontro no consultório.
Cansadas porque não conseguem dizer “não”. Elas têm medo, desconhecimento a respeito de seus desejos, sensação de menos valia, dificuldade em bancar suas escolhas e, muitas vezes, orgulho de ser “pau pra toda obra”.
O que será que fulano vai pensar de mim se eu me negar a fazer isso?
Não serei amada, se não fizer o que estão me pedindo e isso é algo que eu não posso suportar.
Ah, mas não é tão importante assim esse meu compromisso, posso desmarcar porque a demanda do outro é muito mais urgente.
Nossa, não quero criar conflito, não aguento gente brava comigo, então é melhor fazer o que estão me pedindo.
Na verdade, não sei bem se quero isso ou não, então vou fazer o que o outro acha que é certo.
E se eu bancar o que estou querendo? Vou ter que assumir se tudo der errado, então é melhor eu seguir o conselho de fulano.
Adoro ser chamada pra tudo. Me dá sensação de ser muito querida! Me dá muito poder!
E seguem pela vida afora, chorosas, depressivas, com insônia e a sensação de sempre ser abusadas, até mesmo pela própria família.
A pessoa já se acostumou tanto a ser assim que sofre mas, muitas vezes, prefere estacionar no sofrimento do que arregaçar as mangas e tentar entender de onde vem tudo isso.
E o que fazer? Reconhecer que, talvez, não dê conta sozinha, de resolver a situação e precisa pedir ajuda. É preciso coragem para mergulhar pra dentro de si mesma e se auto-conhecer. É preciso coragem para encarar uma psicoterapia.
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Por que tenho medo de lhe dizer NÃO?
“Você pode ficar com os meninos amanhã, pra mim? Vou sair com o Daniel.”
Ela sorriu amarelo. Sua tão planejada noite de queijos, vinhos e filmes acabava de ir por água abaixo. Mas…coitada da irmã. Com 2 filhos pequenos, tinha que se virar para arrumar tempo para o marido.
“Estivemos conversando aqui e achamos que você é a pessoa ideal para ser o novo representante de sala junto ao colegiado. Já foi eleito por unanimidade!”
Recebeu os tapinhas nas costas, sem saber direito o que sentia. Sorriu, sem graça, já antevendo toda a responsabilidade que teria que assumir. Mas…disse “sim”.
“Quem pode levar a mamãe ao médico, na terça-feira, às 8 da manhã? Eu não posso porque tenho que trabalhar.”
“Também não posso, tenho consulta nesse dia.”
“Nem eu. Vou viajar pra São Paulo na sexta e volto na outra quarta.”
“Marina tem prova nesse dia e vou ter que estudar com ela.”
Os olhares se voltaram para a caçula que não teve outro jeito, senão concordar. Ia perder prova na faculdade.
Começara um namoro meio sem querer. Mas…ela parecia tão apaixonada! Engatara o noivado também meio sem querer. Mas…ela lhe era tão devotada! E, agora, ia casar. Também sem querer. Em que ponto havia se perdido de si mesmo?
“Sabe o que é? Eu queria muito fazer terapia com você. Você foi tão bem recomendada! Mas, agora – sabe como é, né? – o país tá numa crise brava e eu não ganho muito. Queria saber se você pode fazer um preço melhor pra mim.”
“Qual é sua proposta? Quanto você sugere?”
“Ah…eu posso pagar 1/4 do valor que você cobra.”
Engoliu em seco. O valor era humilhante. Mas consentiu.
“Estamos com um problema de troca de horário de pessoal. Precisamos cobrir todos os setores, mas não temos gente suficiente. Você pode dobrar na quinta e na sexta?”
Não conseguiu dizer “não”.
Essas pequenas histórias ilustram, de leve, o sofrimento por que passam as pessoas incapazes de dizer “não”.
(Identificou-se com alguma delas?).
Vontade, elas até que tem, de serem assertivas e colocarem seus desejos de forma transparente. Mas uma força maior do que elas mesmas as impede. E o que seria esse “algo”?
Em muitos casos, essa incapacidade pode sinalizar, além de outras coisas:
– Uma vontade incontida de ser aceito e benquisto pelos outros;
– Sensação (que, geralmente, é adquirida na infância e persiste via afora) de que seus desejos não são importantes;
– Vaidade e orgulho;
– Dificuldade de enfrentar um conflito;
– Desconhecimento a respeito dos seus próprios desejos;
– Dificuldade em assumir suas escolhas e as subsequentes consequências de seus atos.
Apesar de todas essas possíveis causas, a origem maior parece apontar para a baixa autoestima. Uma pessoa consciente de quem é, de seus acertos, desacertos e limites, além de madura e responsável, certamente tem equilíbrio e centramento para lidar com as várias situações da vida. Alguém que se ama e se sabe merecedora de atenção – sem ser egocêntrica – jamais se deixará atropelar pelos outros ou por si própria.
Portanto, refaçamos as histórias:
“Você pode ficar com os meninos amanhã, pra mim? Vou sair com o Daniel.”
“Posso, sim. Até às 22 horas. Depois disso, já tenho outros planos.”
“Estivemos conversando aqui e achamos que você é a pessoa ideal para ser o novo representante de sala junto ao colegiado. Já foi eleito por unanimidade!”
“Ah, rapai…vai dar não! Se eu pego isso daí, vai me prejudicar nos estudos. Tô com tempo, não!”
“Quem pode levar a mamãe ao médico, na terça-feira, às 8 da manhã? Eu não posso porque tenho que trabalhar.”
“Também não posso, tenho consulta nesse dia.”
“Nem eu. Vou viajar pra São Paulo na sexta e volto na outra quarta.”
“Marina tem prova nesse dia e vou ter que estudar com ela.”
Os olhares se voltaram para a caçula que disse:
“Nossa! Nesse dia não posso! Tenho uma prova superimportante na faculdade e não vou ter nova chance de fazê-la. Vocês todos, têm mesmo certeza absoluta de que não vão poder acompanhar mamãe?”
Começara um namoro meio sem querer. Mas…ela parecia tão apaixonada! Engatara o noivado também meio sem querer. Mas…ela lhe era tão devotada! E, agora, ia casar. Também sem querer. Em que ponto havia se perdido de si mesmo?
Ele mesmo responde: “Foi quando não soube reconhecer meus limites e me atropelei. Mas, por mais duro que possa parecer, ainda dá tempo de retroceder. Preciso de ajuda profissional. Antes tarde do que nunca.”
“Sabe o que é? Eu queria muito fazer terapia com você. Você foi tão bem recomendada! Mas, agora – sabe como é, né? – o país tá numa crise brava e eu não ganho muito. Queria saber se você pode fazer um preço melhor pra mim.”
“Qual é sua proposta? Quanto você sugere?”
“Ah…eu posso pagar 1/4 do valor que você cobra.”
“Nossa, que pena! Eu tenho um valor mínimo e me pauto por ele. Infelizmente, o que você está propondo está muito aquém do que é interessante para mim. Mas, se quiser, posso te indicar profissionais que fazem um preço social.”
“Estamos com um problema de troca de horário de pessoal. Precisamos cobrir todos os setores, mas não temos gente suficiente. Você pode dobrar na quinta e na sexta?”
“Posso na quinta. Na sexta, já tenho compromisso agendado.”
Agora, pare e reflita: se você também sofre com essa situação, responda:
– O que de pior poderia me acontecer se eu dissesse “Não”? E como eu reagiria?
– A quem temo desagradar?
– De onde surge esse dificuldade?
E saiba que, acima de tudo, quem diz muito “sim” para os outros, é porque está dizendo muito “não” para si mesmo.

Construindo Um Relacionamento Feliz – parte 1
Ministro palestra em curso de noivos da igreja católica há vários anos. Quando olho aqueles jovens, geralmente entre 25 e 35 anos, penso comigo: “Não sabem de nada, inocentes!”
Acontece que só saberão, mesmo, se se casarem, dormirem e acordarem juntos, usarem o mesmo banheiro e brigarem por toalhas molhadas em cima da cama, além de outras situações similares.
Mas penso que a construção de um relacionamento feliz pode ser menos sofrida e amenizada se levarmos em consideração algumas coisas:
1) Seria bastante interessante se os casais começassem a pensar sobre essa questão ainda no namoro (apesar do momento atual em que se sobressaem os(as) ficantes e peguetes, eu acho que ainda existem namoros, isto é, como diz o dicionário, “terem duas pessoas relacionamento amoroso contínuo ou por um período de tempo”). A dificuldade é que, na fase da paixão, somos inundados pelo neurotransmissor dopamina, o que nos proporciona uma sensação de êxtase. O mundo é lindo, os passarinhos cantam e só queremos ficar ao lado do(a) amado(a). O resto do mundo não importa, como incontáveis canções, no mundo inteiro, se encarregam de nos lembrar. Nessa hora, ninguém conta ao outro que ronca ou que dorme de rolinhos no cabelo, certo? Usamos máscaras o tempo todo, porque queremos “estar bem na fita”. Só que ninguém aguenta esse nirvana muito tempo, pois temos que trabalhar, estudar, viver e, portanto, aquele arrebatamento vai se tornando mais discreto, dando lugar à fase do amor. É a fase pé no chão, na qual começamos a perceber que “o cara” e “a gata” têm vários defeitos e nos decepcionamos com isso. Mas então entendemos que não dá pra ficar somente com a parte agradável e aprendemos a ceder e a entender melhor nosso par, no intuito de continuarmos o relacionamento. Ou aceitamos o pacote todo ou, então, partimos pra outra. É nessa hora que muita gente se separa, porque não está muito a fim de lidar com frustrações. A terceira fase é a mais difícil: a crise. Acontece sempre que entra um 3º na relação e não necessariamente precisa ser um(a) amante. O marido ficou desempregado, a sogra foi morar junto com o casal, nasceu um filho, a mulher quer fazer um concurso mas só tem vaga para outro estado etc. É hora de repensar o que está dando certo e o que tem que ser reestruturado. Nessa fase é que entra, na maioria das vezes, um psicoterapeuta para ajudar a clarear os caminhos que o casal está percorrendo e pretende percorrer.
2) Todos viemos de uma família. Não importa se não conhecemos pai, mãe, se os tivemos presentes ou ausentes, se foram severos ou cordatos conosco, mas ninguém é filho de chocadeira. E, nesse contexto, o primeiro amor de todos nós foi a mãe ou quem fez sua função (uma madrinha, a avó ou até mesmo o pai). É através da mãe que aprendemos a amar e a nos relacionar com os demais. Mas essa simbiose deliciosa requer um corte, para que possamos nos constituir como pessoas separadas dela. Então, a figura do pai será preponderante para que nos lancemos ao mundo. Pessoas que não tiveram a sorte de ter a mão do pai empurrando-os, tornam-se eternos dependentes e “filhinhos da mamãe”. Provavelmente, terão dificuldades nos relacionamentos posteriores. Além disso, fomos criados em um lar, com suas crenças, mitos, religião, direitos e deveres. E assim aconteceu com nossos pais, avós, bisavós etc. Portanto, o que chegou a nós pode ter tido origem há muitos anos e seguimos repetindo, meio sem saber o porquê e se faz sentido na nossa vida. Acontece que os traços familiares são muito fortes e é a mais absurda ingenuidade pensarmos que nos livraremos deles tão facilmente. Porque, querendo ou não, estão esculpidos no nosso inconsciente, guiando nossas ações. Quer um exemplo? Tive um cliente que almoçava todos os domingos com seus pais, exatamente como faziam todos os irmãos casados. A esposa, no começo, não se importava. Pouco depois, começou a ficar incomodada com aquela tradição e se pôs a pressionar o marido, que foi incapaz de “trair” a família de origem. Começaram, aí, as brigas. Dessa forma, procure saber as histórias de sua família: porque reagem assim ou assado, em que geração isso começou, porque é importante – ou não – manter a tradição e seja transparente com seu par. Conte a ele sua história familiar e veja como reage. Converse! Exponha sua verdadeira face! Essa é a hora!
…..Continua no próximo post: Construindo Um Relacionamento Feliz – parte 2
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Construindo Um Relacionamento Feliz – Parte 2
3) Acredito que exista uma certa ingenuidade a respeito das relações amorosas. As pessoas tendem a pensar que só o amor sustenta a relação. Se você me ama e eu te amo, então tudo ficará mais fácil. Venceremos o mundo juntos! Só que, na prática, não é assim que acontece.
No texto escrito pelo jornalista Artur da Távola, que se intitula Só o Amor Não Sustenta a Relação, ele diz que entre “marido e mulher, por não haver laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta… por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza e de cobrança em cobrança acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna… É necessário respeito, agressões zero, paciência, disposição para ouvir argumentos alheios… amor só não basta… não pode haver competição e nem comparações…tem que haver jogo de cintura…disciplina para educar filhos, tem que ter inteligência, um cérebro programado para enfrentar rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar…”, ou seja, tem que ter sabedoria quando a crise se instala.
Nesse mesmo texto, o autor escreve que, muitas vezes, temos que fazer de conta que não ouvimos e não vemos os fatos mais superficiais, sob pena de entrar em discussão pelas mínimas coisas.
4) Pegando um gancho no tópico acima, conto agora uma historinha:
Era uma vez um casal que estava indo jantar, pela primeira vez, na casa de amigos. Não conhecendo bem o endereço e com o marido dirigindo, a esposa disse:
– Eu acho que você tem que entrar na primeira direita.
O marido retrucou:
– Não, eu acho que é a segunda à direita.
E assim ele fez e deu uma volta enorme, acabando por se perder.
Retornaram ao ponto de partida e ele resolveu seguir a sugestão da esposa, entrando na primeira rua à direita. Surpreendentemente, encontraram o prédio.
O homem desligou o carro e perguntou:
– Se você tinha tanta certeza que era a primeira à direita por que você não insistiu comigo, pro que não bateu o pé? Não teríamos que ter dado essa volta toda.
Então, a mulher, ajeitando o cabelo disse:
– Meu querido, o clima estava muito bom entre a gente. Se eu teimasse, acabaríamos brigando por isso e era tudo o que eu não queria. Portanto, eu não quero ter razão, EU QUERO SER FELIZ!
Fica a dica: Não precisamos discutir sobre absolutamente tudo. Devemos saber a diferença entre o supérfluo e o fundamental. Deixar passar as situações periféricas, para nos concentrarmos no que não podemos, mesmo, abrir mão. Mas isso exige um profundo autoconhecimento.
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Construindo Um Relacionamento Feliz – Parte 3
Continuando nossa prosa, falemos agora sobre os mitos do relacionamento:
5) “Encontrei a minha metade da laranja”
Muito lindo isso, mas pouco funcional. Novamente vigora a ideia do amor romântico, aquele que supre e suprirá todas as nossas carências, não deixando lugar para a mínima infelicidade. Na prática, essa convicção só gera frustração, pois todos nós – todos nós!!! – somos seres humanos incompletos. Tive um professor de psicanálise que dizia que, a partir do momento em que saímos da barriga da nossa mãe e o médico corta o cordão, passamos o resto da vida tentando acoplar esse côto umbilical nas outras pessoas e nos objetos, de forma a minimizar a ideia de incompletude. Mas a sensação de plenitude que gozávamos no útero materno jamais – jamais!!! – retornará. Então vamos nos iludindo que existirá, em algum lugar do mundo, aquele ou aquela que será nossa alma gêmea. Quantos relacionamentos desfeitos por causa dessa ideia equivocada! Ao mínimo sinal de frustração, que com certeza virá, esvai-se a imagem da laranja completa.
Um relacionamento funcional e equilibrado exige entender que o outro é tão imperfeito e incompleto como eu também sou e, por isso mesmo, também está à procura de completude e não poderá preencher absolutamente ninguém. Maturidade pressupõe entender que tenho que ser inteiro, tenho que conhecer minhas potencialidades e limites para que possa manter um relacionamento saudável – comigo e com os outros. É bastante doído desistir desse idílio amoroso, mas é absolutamente vital que o façamos, para termos uma vida mais próxima da realidade;
6) “Encontrei meu príncipe/ princesa encantado(a)”
Dizem que a culpada de as mulheres acreditarem no príncipe encantado é a Disney; e que a culpada de os homens acreditarem na mulher ideal é a Playboy. Pois, é…nenhum dos dois existe, a não ser na nossa imaginação e, com esta, fazemos o que queremos.
Todas as histórias da Disney dizem de uma princesa lânguida que é salva por um príncipe maravilhoso, que a resgata de seu destino trágico. Mas, será que, nos dias de hoje, alguma mulher tem que ser salva por tão distinto cavalheiro? As mulheres trabalham, se viram, sustentam casa mas continuam imaginando que a vida seria bem mais fácil se fossem amparadas pelo homem perfeito, lindo e rico. Essa cena, por mais bem resolvidas que sejam as mulheres, ainda povoa o imaginário feminino. E os homens – os latinos, pelo menos – ainda acreditam que sua mulher perfeita será uma exímia profissional, dona de casa exemplar, mãe dedicada e ainda, entre 4 paredes, um vulcão sexual.
É uma canseira posar de perfeito(a), seja o príncipe garboso, seja a doce princesa.
Melhor, mais verdadeiro, mais honesto, é não exigir do outro – e nem de si mesmo(a) – a conduta diária irretocável. Até porque NÃO existe o “casaram e foram felizes para sempre”. Melhor dizer: “Casaram e seguiram pela vida, batalhando por sua felicidade, todos os dias de sua existência”
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Construindo Um Relacionamento Feliz – Parte 4
7) Estamos aqui falando de relacionamentos heterossexuais, ok? Não iremos pelo viés dos relacionamentos homoafetivos, porque exigirá uma outra linha de raciocínio. Portanto, vamos nos deter nas diferenças emocionais entre homens e mulheres.
Vejam só: homem é, anatomicamente falando, pra fora. Além disso, é criado para o mundo: brinca de soltar pipa, andar de bicicleta, jogar bola no campinho…quando vira adolescente, vai e volta muito mais facilmente do que qualquer garota. Resumindo: homem é mais solto na vida.
A mulher é, anatomicamente, pra dentro. Responda pra mim: qual é o primeiro presente que uma menina ganha? Isso mesmo, uma boneca. A bebê ainda está na barriga materna e uma boneca cor de rosa já a espera dentro do berço.
Depois, aprende a cuidar da casa e a cozinhar. Aprende como ninguém, a cuidar do outro, antes de cuidar de si mesma.
Antes que me acusem de ser retrógrada e sexista, devo dizer que muito me agrada ver mulheres pilotando aviões e dirigindo tratores e homens em casa cuidando de filhos. E que tenho certeza que ambos têm capacidades múltiplas, não limitadas pelo sexo. Mas não há dúvidas de que, pelo menos no caso de países latinos, os papéis ainda estão muito bem definidos pelo indoor/ outdoor: homens são pra fora/ mulheres são pra dentro;
8) Homens são mais objetivos; mulheres são detalhistas.
Se você perguntar a um homem o que é uma mesa de jantar, ele provavelmente dirá: “é um móvel quadrado, retangular, oval ou redondo e que serve para se colocar comida, pratos, talheres e copos e ao redor do qual as pessoas se sentam para comer”. Já a resposta feminina poderia ser igual, com o seguinte complemento: “o material desse móvel pode ser de madeira, vidro, inox, pedra, mármore, granito e similares. As cadeiras devem combinar com a mesa e arranjos de flores em cima desta dará um toque especial. O sousplat (moço, você aí que está lendo meu texto, sabe o que é isso? Pronuncia-se “suplá”. Se não souber, dá um Google) deve combinar com os guardanapos e…blá…blá….blá….)
Mulheres cortam 1 centímetro do cabelo e ficam furiosas se os companheiros não notam tão significativa mudança; homens falam cerca de 7 mil palavras por dia e mulheres o triplo: 21 mil; mulheres encontram as amigas e passam o scanner: avaliam a roupa, a maquiagem, a expressão facial, a gordura ou a magreza e se comparam com a interlocutora; homens simplesmente dizem “oi”; homens tem pânico de discutir a relação; mulheres amam uma DR.
Existem muitas outras diferenças entre os sexos, mas, agora, eu gostaria de te ouvir: pela sua experiência, quais mais você acrescentaria?
Ah, última sugestão: se não assistiu, veja Se Eu Fosse Você, com Toni Ramos e Glória Pires. Além de dar boas gargalhadas, acredito que vá florescer em você, o sentimento de empatia, ou seja, “a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.”
Até a parte 5….
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Construindo Um Relacionamento Feliz – Parte 5
Uma das coisas que mais cria confusão entre os casais é a comunicação truncada: aquela que gera muitas dúvidas, que diz sem dizer, que deixa reticências no ar e dá espaço às fantasias ou que é dura e causa mágoas.
Uma boa comunicação requer um emissor, um receptor, uma mensagem e um canal. Mas, às vezes, pode haver ruídos nessa comunicação. Portanto, torna-se necessário que prestemos atenção, também, a dois aspectos da comunicação: o conteúdo e a forma. Imaginemos uma cena na qual o conteúdo é muito, muito duro, mas a voz suave, o olhar terno e a empatia amenizam o impacto das palavras. Portanto, é necessário saber nos colocar no lugar do outro e pensar, primeiramente, como nos sentiríamos se estivéssemos ouvindo o discurso que ameaçamos professar.
Como sou muito prática e objetiva, gosto de exemplos e ilustrações. Então, que tal ler, antes, essa historinha e imaginar a cena? Clique AQUI
Faz sentido pra você?
Agora, observe a tirinha que ilustra esse artigo. Você verá que a tubaroa “amarra a cara” para seu marido tubarão. Observador que é, dos gestos e expressões faciais de sua amada, o Sr. Tubarão a inquere: Afinal, o que está acontecendo? A Sra. Tubaroa permanece irredutível, apesar de ser visível que algo não vai bem. De tanto insistir e fazendo um malabarismo linguístico, ele arranca – mais ou menos – a confissão de sua cara-metade: o mau humor da fêmea relaciona-se a algo que ele não foi capaz de adivinhar e suprir.
Olha, cidadão, se tem uma coisa que mulher gosta muito é que o parceiro, só de olhar pra ela, já lhe adivinhe os pensamentos. E, até onde eu sei, não existe curso de telepatia, certo? Não dá pra saber o que sua mulher pensa, sente, deseja se ela não falar claramente. Então, quando você – oh, insensível! – não é capaz de se antecipar aos desejos dela…você causa uma frustração muito grande e pá!!! Ela vai achar algum jeito de te pagar na mesma moeda. Sabe seus planos pra hoje à noite? Pois, é…esquece. Conseguiu se reconhecer nessa ou em alguma outra situação parecida?
Vocês – homens e mulheres – conseguem também perceber quantos pequenos e grandes problemas poderiam ser evitados se nos dispuséssemos a dialogar de uma forma mais eficiente, sem acusações, comparações e competições? Mas por que não fazemos isso? Porque dá muito trabalho se autoconhecer e, por comodismo, vamos empurrando a poeira pra debaixo do tapete, até que a sujeira cresce tanto, que acabamos tropeçando nela. Quem investe no autoconhecimento, conhece e nomeia seus sentimentos e sensações e, portanto, pode se expressar melhor nos diálogos que estabelece. Mas, ainda que seja um trabalho árduo e contínuo, é melhor evitar dar com a cara no chão, porque a dor pode ser muito maior do que se déssemos mais valor ao conhecimento de nossos limites e potencialidades.
Um outro aspecto que costuma causar dissabores entre os casais se refere à prodigalidade em fantasiar e imputar aos outros aquilo que pensamos, quando, às vezes, a situação nem sequer havia passado pela mente de nosso interlocutor. Quer um exemplo? Mais uma historinha que dá muito o que pensar:
“Conta-se a história de um casal que tomava café da manhã no dia de suas bodas de prata. A mulher passou a manteiga na casca do pão e o entregou para o marido, ficando com o miolo.
Ela pensou:
“Sempre quis comer a melhor parte do pão, mas amo demais o meu marido e, por 25 anos, sempre lhe dei o miolo. Mas hoje quis satisfazer meu desejo. Acho justo que eu coma o miolo pelo menos uma vez na vida”.
Para sua surpresa, o rosto do marido abriu-se num sorriso sem fim e ele lhe disse:
“Muito obrigado por este presente, meu amor… Durante 25 anos, sempre desejei comer a casca do pão, mas como você sempre gostou tanto dela, jamais ousei pedir!”
Moral da história, da vida a dois:
1. Você precisa dizer claramente o que deseja, não espere que o outro adivinhe.
2. Você pode pensar que está fazendo o melhor para o outro, mas o outro pode estar esperando outra coisa de você….
3. Deixe-o falar, peça-o para falar e quando não entender, não traduza sozinho. Peça que ele se explique melhor.
4. Esse texto pode ser aplicado não só para relacionamento entre casais, mas também para pais/filhos, amigos e mesmo no trabalho.”
Gostou? Então sugiro que, se você ainda não o faz, passe a dizer a todos se prefere a casca ou o miolo. Sob pena de comer o “pão que o diabo amassou” por longos e longos anos. E continuar culpando o diabo por sua infelicidade.
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Construindo Um Relacionamento Feliz – Parte Final
Bem, chegamos ao final da construção do relacionamento feliz. Chegamos? Não, essa frase foi somente pra você se animar e continuar a ler até o final, haja vista que o nosso investimento na vida só termina quando…a vida termina.
Pra se ter ideia de como as relações interpessoais – dentre elas, as amorosas – podem determinar a felicidade ou a infelicidade de alguém, Freud, o criador da psicanálise, em “O Mal Estar da Civilização”, expôs as 3 fontes de sofrimento humano: a NATUREZA e suas intempéries (vulcões, avalanches, enchentes e similares), o ENVELHECIMENTO (juntamente com as doenças e a morte) mas, principalmente, o RELACIONAMENTO com as outras pessoas. Relacionar-se requer virar adulto, consciente de seus deveres e responsabilidades pois, quem quer somente ter direitos, ainda não está preparado para construir algo em comum. Quem exige, bate o pé, faz pirraça, é criança e criança não namora e não casa.
E para ter o ônus e o bônus de ter um parceiro(a) é preciso, antes de mais nada, ser um SER por inteiro e desistir de todo o folclore que nos encheram os ouvidos, desde sempre, a respeito do amor romântico. Suavidade e fantasia, sim, mas com os 2 pés no chão.
É preciso ter interesses e amigos próprios e um trabalho do qual se goste, para poder compartilhar com o(a) amado(a) um plano em comum. Urge ser interessante para o(a) parceiro(a) e interessado nele(a). É preciso ser como o conjunto de interseção da matemática: uma parte individual para poder ascender ao caminho em comum
Portanto, caro leitor, se quiser ser feliz no amor, pode se preparar para, dia-a-dia, cimentar alguns tijolinhos de paciência, compreensão e companheirismo no prédio do seu relacionamento. E faça com que a base seja larga e profunda, pois construção que é feita de qualquer jeito, tende a desmoronar.
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